• O Violoncelo

    Chorai arcadas
    Do violoncelo!
    Convulsionadas, Pontes aladas
    De pesadelo…
    De que esvoaçam,
    Brancos, os arcos…
    Por baixo passam,
    Se despedaçam,
    No rio, os barcos.
    Fundas, soluçam
    Caudais de choro…
    Que ruínas, (ouçam)!
    Se se debruçam,
    Que sorvedouro!…
    Trêmulos astros,
    Soidões lacustres…
    Lemes e mastros…
    E os alabastros

    Dos balaústres!
    Urnas quebradas!
    Blocos de gelo…
    Chorai arcadas,
    Despedaçadas,
    Do violoncelo.

    Camilo Pessanha, in ‘Clepsidra’

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Lembranças

De fato sou uma pessoa nostálgica.

Durante um único dia sou capaz de reviver infinitas memórias e sensações que ocorreram a muito tempo. Basta um gesto, um cheiro,  um gosto, um nada e já estou transitando entre os mais variados momentos, alguns até sem uma aparente importância, da minha vida.

E gosto muito de cultivar essas memórias – as boas mas também algumas más -, de encher os ouvidos da Mica com histórias e histórias, e chego a ter medo de perde-las,  de acordar ver que a parte do meu cérebro responsável pelas lembranças se revoltou, pediu a conta e mandou tudo para as cucuias, sem dó nem piedade, me deixando oco de passado.

Ainda se desse pra documentar tudo em um papel, fotografias, CD, DVD, sei lá, slides, mas é impossível. Uma mesma lembrança nunca será lembrada do mesmo jeito, a riqueza de detalhes sempre será diferente (pelo menos é o que acontece comigo). Não é como se lembrar do que você almoçou antes de ontem (taí uma boa dica pra quem quer se livrar de um soluço, tente se lembrar do que comeu antes de ontem que ele pára na hora, infalível!) que você pára e pensa até recordar, seria muito fácil de registrar. Mas de repente um simples pedaço de mamão no café da manhã,  faz surgir na sua mente a imagem do seu avô, e o modo em que ele cortava o mamão (apesar de a especialidade dele fosse descascar abacaxi), cozinhava banana e preparava tudo para o café naquela mesa enorme, do “passeio” que era ir até a padaria da esquina comprar pão e leite – da marca Paulista – e dar uma paradinha na banca para comprar gibis e figurinhas (será que vem daí minha adoração por bancas e padarias?)…tudo isso em um micro-milésimo de segundo, e a partir de um pedaço de papaya.

Não sei se meus irmãos irão se lembrar dessas coisas, e talvez se lembrem de coisas quem nem faço ideia, mas com certeza minha vida seria muito menos feliz sem minhas lembranças. Talvez por isso, sou (pelo menos acho que sou) a pessoa em casa, depois da minha mãe, a pessoa com o maior talento para guardar coisas “sem importância”. Guardo para junto com elas guardar o momento, pequenas coisas que acabam se tornando tralhas imensas, mas que eu adoro.

Adoro chegar em Tatuí e começar abrir minhas velhas caixas, olhar partituras antigas, ver fotos, reorganizar os discos, mesmo que minha rinite power tente me boicotar. E quando tenho que me desfazer de algo é aquele sacrifício, vou postergando ao máximo até não ter mais jeito e quando isso acontece tento dá-las um final digno. Afinal, até as tralhas merecem um pouco de dignidade, não é?

Lógico que não sou a única pessoa no mundo com esses sintomas, aliá acho que em doses maiores ou menores todos têm um pouco disso.

Bom, agora resta saber o que levaria uma pessoa a ler um texto desses até o fim se continuar falando sobre minhas lembranças. Provavelmente nada, ainda mais se for uma pessoa desconhecida. Mas por outro lado, não tenho nenhum compromisso com quem quer que seja, e se esse blog  – que nasceu de uma avaliação de uma matéria da universidade para a professora saber como estávamos conduzindo nossa carreira – ainda está ativo, é porque gostei dessa brincadeira. Antes jogava sudoku e pinball e agora me divirto escrevendo, apesar de nunca ficar satisfeito. Claro que fico feliz quando vejo que alguém entrou, não por engano, e ainda mais quando surge algum comentário – mesmo que sejam todos de amigos e parentes – mas ultimamente a finalidade tem sido essa: hobby, nada mais.

Da onde saiu essa ideia de escrever sobre minha nostalgia?

É que ontem aconteceu uma coisa que me fez lembrar muito da minha vó Lúcia. Dos tempos em que passava as férias com ela lá em Sorocaba no melhor hotel do mundo: HOTEL SÃO PAULO. Como era bom!!! A rotina era sempre a mesma: Acordar>Ir Para o Hotel>Café> TV ou Futebol de Botão>Ir com a vovó fazer o almoço>Ficar uns minutinhos com vovô na recepção>Fazer serviço de Banco…E por incrível que pareça, adorava fazer serviço de banco com minha avó. Em tempos vacas acima do peso, ela montou uma caderneta de poupança do Banco Econômico para cada neto – nunca vi a cor desse dinheiro, aliás nenhum dos seis – e sempre que estava lá ela me mostrava minha cadernetinha com todas as anotações sobre minha grana. Eu fazia minhas contas e, sem saber porque e pra que, ficava feliz. Tinha entre nove e dez anos.

Voltando, agora que estamos trabalhando (Mica e eu) pensamos em tentar guardar alguma coisa, e, para isso resolvemos abrir uma poupança, assim: sobrou alguma coisa vai pra poupança! E ontem foi o dia, fiquei em casa estudando minhas escalas e cordas soltas enquanto a Mica foi resolver umas coisas no banco, entre elas a tal poupança (folgado é a mãe!)rsrs. Quando ela voltou, feliz da vida com nossa primeira conta juntos, perguntei entre outras coisas: O cartão da poupança demora para chegar? Ela disse não, sorriu, abriu a bolsa e… nada de cartão.

Quase vinte anos depois, em pleno século 21, voltei a ter uma caderneta de poupança!

6 Respostas

  1. Esse ficou muito bom meu neguinho!!!
    E vc foi logo casar com uma pessoa que joga fora tudo bem rapidinho….que de nostalgica não tem nada!!!
    Mas é isso mesmo…os opostos se atraem!!! rsrsrs
    te amo muito
    beijos da sua Mica

  2. qtas vezes vc me viu chorar?

  3. Fala Fio!!
    To gostando dos textos.
    Abraço.

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